COPERCOCO

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segunda-feira, 12 de junho de 2017

USO DA FIBRA DE COCO

Sem alternativa, consumidores e vendedores jogam no lixo matéria-prima que poderia ser utilizada pela indústria automobilística, construção civil, agricultura e artesãos

Flávia Camarano

A população desconhece o aproveitamento dos resíduos do coco em vários subprodutos 

Cascas de coco são misturadas com plásticos e
garrafas pet
Tomar água de coco para se refrescar ou até mesmo depois da atividade física é um hábito rotineiro para os moradores do Distrito Federal. Diariamente, chegam à Capital Federal cerca de três caminhões vindos da Paraíba, Bahia e Pernambuco, cada um transportando sete mil cocos. No fim do mês, a conta do consumo passa de 600 mil. Sem ter onde descartar a fruta – matéria-prima para a indústria automobilística e artesanato – consumidores e vendedores jogam toneladas de coco em contêineres, que acabam no lixão. Há 8 anos, a Cooperativa dos Trabalhadores em Coco do DF (Coopercoco) briga para entrar em funcionamento e mudar esse cenário. “Temos todo o maquinário comprado, que está guardado. Mas ainda não fabricamos”, diz o presidente da entidade, José Roberto Melo Machado.
José Machado, presidente da Coopercoco, luta para
que a entidade possa funcionar até o fim do ano

No mês passado, a Coopercoco, única no segmento em todo o DF, obteve a licença de instalação que é concedida por órgãos ambientais do governo. Com recursos já garantidos por meio de parcerias, já possui área para a construção da unidade de beneficiamento no Riacho Fundo I. Machado conta que foram cumpridas todas as exigências ambientais.  “Espero que até no final do ano a gente esteja com pelo menos a licença de operação. Levamos dois anos e meio de uma licença para outra”, complementa.

Desperdício

Do coco, não se aproveita apenas a água e a massa – parte branca comestível de nome 
Divino de Souza descarta as cascas no lixo comum
por falta de opção
técnico albúmen. Cerca de 80% da fruta é constituída por fibra que, depois de processada, pode ser utilizada pela indústria automobilística no estofamento dos carros, como substrato agrícola, peças para artesanato, madeira para a construção civil e na recuperação de áreas degradadas. “Eu sei que do coco não se perde nada. Eu vendo cerca de 50 a 60 por dia. Vai tudo para o lixo”, lamenta o vendedor Divino de Faria de Souza, 60, que trabalha em frente ao prédio da Câmara dos Deputados, de segunda a sexta-feira.

O piauiense José Ribamar Cavalcante, 42, mora há seis anos em Brasília. Em 
Fibras secando depois de trituradas
(Foto de João Carlos Batista)
1982, trabalhou em uma cooperativa que processava o resíduo do coco – especialmente a fibra para atender a produção dos carros Gurgel e Puma – em Fortaleza, no Ceará.  “É um desperdício. Se é para aproveitar, não é para jogar fora”, revolta-se, ao ver o destino da fruta nas ruas de Brasília.

Enquanto o tempo passa, o lixão é o destino de mais de mil toneladas de matéria-prima que poderiam estar sendo processadas, gerando mais de cem empregos diretos, novos produtos e protegendo o meio ambiente. Para agravar ainda mais a situação, a casca do coco contribui para a proliferação de doenças como dengue e febre amarela.

Experimento plantio em slab ou grow bag
(Foto de João Carlos Batista)
O biólogo e consultor ambiental, João Carlos Nunes Batista, faz parte da cooperativa e é um dos membros que utiliza, de forma rústica, as fibras do coco e seus subprodutos para serem aplicados na floricultura. “A fibra de coco é uma matéria orgânica inerte, neutra. Você pode cultivar o que quiser desde que você faça a adubação exigida para aquele tipo de cultivo. A fibra não é adubo”, explica. Sobre o descarte inadequado no DF, o especialista lembra que o lixão é apenas um dos problemas. “E aquela quantidade que vai para os bueiros, que ficam perdidos? Tem muito coco que a gente não imagina onde vai parar”, alerta Batista.

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