Sem alternativa, consumidores e vendedores jogam no lixo matéria-prima que poderia ser utilizada pela indústria automobilística, construção civil, agricultura e artesãos
Flávia Camarano
A população desconhece o aproveitamento dos resíduos do coco em vários subprodutos |
Cascas de coco são misturadas com plásticos e garrafas pet |
Tomar água de coco para se refrescar ou até mesmo depois da atividade física é um hábito rotineiro para os moradores do Distrito Federal. Diariamente, chegam à Capital Federal cerca de três caminhões vindos da Paraíba, Bahia e Pernambuco, cada um transportando sete mil cocos. No fim do mês, a conta do consumo passa de 600 mil. Sem ter onde descartar a fruta – matéria-prima para a indústria automobilística e artesanato – consumidores e vendedores jogam toneladas de coco em contêineres, que acabam no lixão. Há 8 anos, a Cooperativa dos Trabalhadores em Coco do DF (Coopercoco) briga para entrar em funcionamento e mudar esse cenário. “Temos todo o maquinário comprado, que está guardado. Mas ainda não fabricamos”, diz o presidente da entidade, José Roberto Melo Machado.
José Machado, presidente da Coopercoco, luta para que a entidade possa funcionar até o fim do ano |
No mês passado, a Coopercoco, única no segmento em todo o DF, obteve a licença de instalação que é concedida por órgãos ambientais do governo. Com recursos já garantidos por meio de parcerias, já possui área para a construção da unidade de beneficiamento no Riacho Fundo I. Machado conta que foram cumpridas todas as exigências ambientais. “Espero que até no final do ano a gente esteja com pelo menos a licença de operação. Levamos dois anos e meio de uma licença para outra”, complementa.
Desperdício
Do coco, não se aproveita apenas a água e a massa – parte branca comestível de nome
Divino de Souza descarta as cascas no lixo comum por falta de opção |
O piauiense José Ribamar Cavalcante, 42, mora há seis anos em Brasília. Em
Fibras secando depois de trituradas (Foto de João Carlos Batista) |
Enquanto o tempo passa, o lixão é o destino de mais de mil toneladas de matéria-prima que poderiam estar sendo processadas, gerando mais de cem empregos diretos, novos produtos e protegendo o meio ambiente. Para agravar ainda mais a situação, a casca do coco contribui para a proliferação de doenças como dengue e febre amarela.
Experimento plantio em slab ou grow bag (Foto de João Carlos Batista) |
O biólogo e consultor ambiental, João Carlos Nunes Batista, faz parte da cooperativa e é um dos membros que utiliza, de forma rústica, as fibras do coco e seus subprodutos para serem aplicados na floricultura. “A fibra de coco é uma matéria orgânica inerte, neutra. Você pode cultivar o que quiser desde que você faça a adubação exigida para aquele tipo de cultivo. A fibra não é adubo”, explica. Sobre o descarte inadequado no DF, o especialista lembra que o lixão é apenas um dos problemas. “E aquela quantidade que vai para os bueiros, que ficam perdidos? Tem muito coco que a gente não imagina onde vai parar”, alerta Batista.
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